19 de outubro de 2009

Dentro e fora da cena

Como no princípio da sessão contámos em conjunto o conto da Cinderela agora fomos convidados para representá-lo em conjunto, desta vez sem exageros. Cada pequeno grupo tinha dois momentos da história para representar, uma regra eram que todos tinham de representar um papel na cena, o que podia ser também um móvel ou uma parte do cenário. A regra mais importante, que caracterizava o exercício, era o respeitar fisicamente as entradas e as saídas de cena. O espaço foi dividido como o espaço da figura, deixando claro o espaço onde iríamos representar. Para além disso, os dois lados curtos do rectângulo constituíam as saídas e cada episódio da história tinha à partida as entradas e as saídas definidas. A dificuldade foi, sem dúvida, a coordenação quase silenciosa entre os vários grupos para que a representação da história nunca parasse.

Este, na minha opinião, foi o primeiro verdadeiro exercício de prática teatral desenvolvido nas aulas, onde era bem clara a delimitação do espaço e onde era claro também que fora desta área éramos alunos e espectadores, mas uma vez pisada a linha cénica éramos actores, com todas as responsabilidades que isso implica. Esta foi também a primeira vez que, durante a minha actuação, olhei para o chão para verificar se estava dentro do espaço concordado.


Fonte: Autoria própria

Os limites de Cinderela

Voltando aos pequenos grupos anteriores (5 ou 6 participantes) foi-nos pedido que representássemos para a turma uma parte da história de Cinderela (representada por um cartão ilustrativo) levando até ao limite uma característica cómica ou surreal da cena. Assim, partindo da sequência básica dos acontecimentos tínhamos de imaginar como poderia acabar, no absurdo, uma determinada situação.

O facto de ter de representar uma situação extrema, além de trabalhar a imaginação e todos os aspectos básicos da dramatização, vai tocar também as dinâmicas de grupo porque nem todas as pessoas se sentem à vontade para representar um papel extremo em frente do grande grupo. Assim, este exercício pode ser ao mesmo tempo útil para formar um grupo e trabalhar vários aspectos das dinâmicas internas, como também pode pôr em desconforto algumas pessoas.

Contar em conjunto

Em grande grupo, sentados em roda, foram dados cerca de dez cartões com ilustrações do conto de Cinderela. Algumas pessoas da turma foram convidadas a reordenar a sequência desta história universalmente conhecida, assim, depois de poucos minutos, tínhamos a sequência completa que representava graficamente o conto. Posteriormente os cartões foram distribuídos aos participantes com um intervalo de 4 ou 5 pessoas entre cada imagem. O objectivo era contar o conto de Cinderela em conjunto, acrescentando cada um um ponto (Quem conta um conto acrescenta um ponto, diz a tradição), mas respeitando a distribuição das imagens. Assim, quem não tinha uma imagem era obrigado a acrescentar particulares da imagem anterior sem revelar o conteúdo da seguinte. Esta tarefa permitia-nos também desafiar o colega a seguir, interrompendo a frase ao meio, mas deixando uma porta aberta para a sua imaginação.

O jogo de reordenar uma sequência de imagens para reconstruir uma história é muito utilizada com crianças, permitindo-lhes treinar o conceito de antes e depois e a relação causa-efeito. Todavia uma actividade como a do contar em conjunto, com só alguns cartões, é aconselhada para um público mais crescido, com uma capacidade de abstracção maior.

O lenço é que escolhe

Sempre continuando a andar pelo espaço, individualmente e ao som da música, foi-nos distribuído a cada um lenço colorido, e fomos depois disso desafiados a dançar com o lenço ou a utilizá-lo como adereço, continuando a nossa marcha. A seguir, os lenços foram os objectos que nos reuniram em grupos, diferenciados pela cor do próprio lenço, também em pequenos grupos continuámos a nossa dança, desta vez em roda, trabalhando quase involuntariamente a percepção de direita e esquerda. Depois de ter lançado várias vezes o lenço ao ar, com o objectivo de apanhar um outro duma cor diferente, juntamo-nos na grande roda e acabámos o aquecimento.

Como também foi dito no debate no fim da sessão este mecanismo dos lenços para formar grupos pode ser muito útil com qualquer tipo de público-alvo para evitar discussões e para acelerar a formação dos grupos. O não saber antes a utilidade dos lenços e a casualidade na escolha da sua cor permite formar grupos completamente aleatórios. Caso seja preciso (por motivos comportamentais ou de número) pode-se juntar dois pequenos grupos de duas cores ou, permanecendo no jogo das trocas e da dança, trocar com um participante o lenço para que ele fique num determinado grupo em vez de outro.

Um ritmo que aquece

O aquecimento desta sessão foi acompanhado pelo ritmo de várias canções gravadas. Inicialmente, a tarefa consistia em andar espalhados pela sala, como se fosse na rua, olhando, mas não interagindo com as outras pessoas. Assim, tendo em atenção também a postura, começámos a andar consoante o ritmo, mudando repentinamente quando este mudava e deixando-nos levar por ele. Existem várias maneiras de expressar o ritmo numa caminhada, pode ser com os pés, com a andatura, com os braços ou ainda com as reviravoltas no sítio.

Este exercício é muito utilizado, pela minha experiencia, em sessões de teatro, podendo ser considerado um aquecimento muscular, como também um aquecimento das relações com as pessoas, focando a atenção na troca de olhares ou até propondo aos participantes que se cumprimentem uns aos outros em maneiras diferentes.

Remake do conto da Capuchinho Vermelho

Mantendo os mesmos pequenos grupos (6 ou 7 elementos) foi-nos dada a tarefa de representar para a turma a história completa de Capuchinho Vermelho com algumas variantes, próprias de cada grupo. O objectivo do público era observar a dramatização e descobrir a variável na execução do conto. A variável do meu grupo foi trocar os papéis das personagens e inserir outras personagens do mundo das fadas no seio da história. Claramente, este desafio permitiu-nos distorcer completamente o conto, uma vez que transformámos o lobo em Capuchinho Vermelho, a casa da avó num hospital dos contos e a própria Capuchinho Vermelho num caçador assassino. As outras variáveis eram constituídas da representação muda e a representação sem fala, mas sim com sons.

Este exercício trabalha a criatividade e o espírito de equipa, o facto de ter uma tarefa comum e de construir todos juntos um produto final para mostrar aos outros melhorou as dinâmicas do próprio pequeno grupo e da turma inteira.

Tirar uma fotografia

A cada grupo, formado com o exercício anterior, foi dada uma imagem de um livro de banda desenhada. O objectivo era construir uma pequena história para dramatizar que, no momento escolhido, sinalizado por um gesto ou uma palavra de um dos actores, nos permitisse congelar-nos todos como estátuas na idêntica posição dos personagens na figura. Era permitido às pessoas, no momento final, quer não serem personagens, mas sim objectos e elementos do cenário da ilustração quer construirem uma história totalmente não-relacionada com a imagem: o importante era apenas que todos parassem no momento exacto, de maneira que os colegas, na qualidade de público, pudessem confrontar a cena com a imagem. O tempo dado era relativamente breve (5 ou 10 minutos) para obrigar-nos a trabalhar a cooperação e a inventividade muito rapidamente.

Muito importante neste exercício, além de ser a primeira abordagem do nosso grupo com a dramatização, foi a noção do espaço, porque no momento no qual iríamos parar as distâncias entre todos tinham de ser proporcionais às da figura dada e porque quando se representa existe sempre um espaço “de cena”.

Formar letras

A tarefa do primeiro exercício desta sessão foi formar, rapidamente e em silêncio, letras do alfabeto português no chão, prestando atenção ao sentido no qual o professor as iria ler e tentando ao máximo utilizar só duas dimensões do espaço. De seguida, realizámos a mesma actividade a pares e a seguir em pequenos grupos, passando da construção de letras a pequenas palavras, tentando organizar-nos em pouco tempo e de maneira que todos participassem na construção da palavra escolhida. O fim desta actividade foi feita juntando os vários grupos até formar dois grupos únicos. Cada grupo tinha de escolher uma palavra secreta para o outro grupo adivinhar.

Graças a esta actividade começamos, sem quase nos darmos conta, a trabalhar em grupo, com pessoas desconhecidas; a necessidade de trabalhar em conjunto rapidamente criou, desde o inicio, um espírito de grupo nos participantes.

Descontrair deitados

Individualmente, deitados no chão a uma certa distância uns dos outros e em silêncio, começamos a concentrar-nos, controlando a respiração e tomando consciência de todas as partes do nosso corpo. A seguir, muito devagar, começamos a rodar primeiro um pé e depois o outro, nos dois sentidos. Depois dos pés passamos a rodar as mãos, sempre em silêncio, e sucessivamente a cabeça, tendo atenção aos músculos do pescoço.

Este exercício, se bem feito, em silêncio e com todo o tempo necessário para cada um, permite começar optimamente uma sessão, descontraindo os músculos principais e algumas articulações.

Prefácio

Este blog insere-se no âmbito da disciplina “Pratica teatral” do Professor Miguel Falcão do Curso de Licenciatura em Animação Sociocultural da Escola Superior de Educação de Lisboa sendo o instrumento de avaliação contínua deste curso e constituindo-se como o meu portefólio individual.

A escolha deste formato deriva do facto de querer construir, para além de um portefólio, uma ferramenta prática e actualizada de exercícios teatrais e conteúdos abordados nas aulas, útil não só a mim, mas também a quem mais possa interessar.

Num primeiro período do semestre, como consta no programa, iremos analisar conteúdos aptos a uma introdução da prática teatral assim como vários exercícios e dinâmicas de grupo, exercícios corporais e vocais, práticas de leitura expressiva e de leitura técnica, jogos sensoriais e treinos da improvisação. Posteriormente, abordaremos as várias escolas e géneros de teatro quer na teoria quer na prática, com exercícios e pequenas representações. Finalmente, iremos realizar, como turma desta disciplina, um pequeno espectáculo teatral, descobrindo e tratando de todos os processos que esta tarefa implica. Todas as actividades nas aulas irão ser feitas ou individualmente ou em pequenos ou grandes grupos. No final de cada sessão iremos ter um espaço de partilha e de debate em conjunto.

Neste blog é minha intenção reportar semanalmente as actividades desenvolvidas nas aulas assim como eventuais reflexões sobre as mesmas. No final, o blog será o meio onde terei todas as informações relativas à minha tarefa no espectáculo teatral do grupo.

A escolha do sistema da apresentação dos vários post responde a uma necessidade de dividir os exercícios efectuados por finalidade, por tema e por dia. Assim será mais fácil, num futuro próximo e longínquo, quando, espero eu, já estarei a trabalhar constantemente na área da ASC, recuperar rapidamente as actividades desenvolvidas e as suas modalidades.

O nome do blog, em italiano, quer recuperar a minha ideia do teatro na ASC. De facto, nesta área, o teatro é, mais que uma ferramenta do fazer para, uma ferramenta do fazer com. ou seja, para realizar actividades com o meu público-alvo para que, graças ao teatro, se alcancem outros objectivos. Neste sentido queria que o meu teatro fosse, ainda que pequeno, contagioso em relação às pessoas com as quais irei trabalhar, contagioso nas relações, na aprendizagem em conjunto e na construção de um grupo.