30 de novembro de 2009

Figurinos, adereços e música

Neste post iremos analisar o trabalho feito nos campos dos figurinos, dos adereços e da escolha da música. Estas três fases do trabalho foram até agora consideradas secundárias, dando mais importância ao guião e à cenografia. Todavia, para realizar um bom trabalho temos de ter em conta também estes aspectos.

Como vimos, quase todos os actores irão interpretar mais do que uma personagem por isso os figurinos devem ser obrigatoriamente simples e rápidos, continuando porém a caracterizar a personagem aos olhos do público. Escolhemos inicialmente em conjunto usar por baixo dos figurinos roupa preta para depois acrescentar a roupa característica de cada personagem. Assim Masetto será um jovem camponês, de fato-macaco ou calças de ganga lisas, camisa aos quadrados e chapéu de palha e o outro jardineiro inicial, o feitor e as pessoas da aldeia irão ter mais ou menos o mesmo figurino, se calhar menos caracterizado, sem, por exemplo, o chapéu de palha. As freiras terão, por cima da roupa preta, uma capa do traje académico, posta nos ombros, e na cabeça um lenço preto com, se possível, uma estrutura em cartolina branca para suste-la. A madre superiora será igual, só caracterizada por uma coroa do rosário na cintura. O técnico de cena, como já vimos, estará vestido de preto, para passar quase despercebido e focar a atenção do público na sua acção e não na sua personagem. Estas escolhas para os figurinos permitem-nos fazer rápidas mudanças entre as personagens e utilizam roupa que podemos facilmente encontrar nas nossas casas ou em casa de amigos, como é o caso das capas dos trajes académicos.

Vimos, ao longo do debate desta sessão, que também não são precisos muitos adereços, sendo a peça, já com os nossos cortes, muito curta e sendo as personagens já suficientemente caracterizadas com os figurinos. Assim estamos a prever precisar apenas de uma pá, ou de uma outra ferramenta de jardineiro, e se calhar uma coroa do rosário para a madre superiora.

Inicialmente não vimos a necessidade de por música na nossa peça, mas depois, reflectindo melhor, percebemos que, sem música, faltaria um elemento fundamental e sobretudo no intermezzo a acção seria bastante silenciosa e se calhar monótona. Assim decidimos pesquisar temas para o intermezzo e provavelmente para o final da peça. Na pesquisa pedimos ajuda ao professor Paulo Rodrigues, da área de música, clarificando a época na qual a novela foi escrita (por volta de 1350) e o seu tom irónico e alegre. O professor forneceu-nos algumas danças amorosas medievais que iremos experimentar ao longo dos ensaios, tendo em conta a possibilidade também de cortar um tema ao meio, para aproveitar só uma determinada parte.

Sendo na sala de aula o nosso espectáculo não precisa, ou se calhar não pode, ter um sistema de luzes, também porque todos os membros do grupo estarão empenhados na cena como actores e não poderiam trabalhar simultaneamente este aspecto. Todavia, paralelamente a esta peça, estamos a preparar, com outros colegas das turmas da noite, um serão de contos no salão nobre da ESE no dia 9 de Dezembro e, entre outras coisas, eu estou encarregado de encontrar uma solução para o sistema das luzes, de maneira a ter uma luz quente, acolhedora, sem ser demasiado dispersiva. Neste blog iremos falar mais à frente também do trabalho que está por trás deste serão de contos.

Cenografia

A cenografia criou-nos, desde o início, bastantes problemas quer por a representação da peça ser na sala de aulas, quer pela necessidade de ter cenografias minimalistas, rápidas de montar e desmontar, dado que todos os grupos irão apresentar o seu trabalho no mesmo dia, quer pela realização das cenas de sexo, fundamentais para o desenvolvimento da nossa história. A primeira solução encontrada foi a utilização duma cortina, representando o convento, atrás da qual realizar as partes mais picantes. A dúvida agora, sanável só nos ensaios, é entre a escolha de um pano branco ou um pano preto para a cortina. A ideia do pano branco nasceu da sugestão de realizar as cenas de sexo só com as sombras das personagens, realizadas graças a luz dum projector, mas continuo a pensar que será bastante difícil projectar no pano sombras nítidas de duas pessoas abraçadas e o problema de sobreposição das sombras mantêm-se de difícil solução. Além disso, a cortina seria útil também para a troca de figurinos e o pano branco pode não esconder suficientemente. Assim, as opiniões no seio do grupo parecem tender mais para a escolha do pano preto. Um outro problema da cortina é a estrutura que a sustem. Inicialmente tínhamos pensado numa complicada estrutura em madeira dobrável que permitia criar uma “porta” onde pendurar a cortina. Observando os custos desta obra e analisando mais no particular a sala de aulas decidimos simplesmente estender um fio entre dois parafusos já presentes nas paredes e pendurar a cortina neste fio.

Um outro ponto central da cenografia é a presença de um crucifixo, quer para criar o ambiente dum convento quer para a irónica cena final. Por isso, e para pendurar também o calendário do qual falámos no post anterior, precisávamos de um elemento cénico, pois decidimos em conjunto não pendurar nem o crucifixo nem o calendário na parede. Escolhemos enfim a parte detrás de um armário, também presente na sala, tendo em conta que iremos colar o crucifixo e o calendário com uma pasta adesiva, sendo todo o armário de contraplacado e não podendo sustentar pregos ou parafusos.

Enfim o último problema da cenografia era relativo às entradas e às saídas dos personagens, assim como as suas trocas de roupa, porque a sala de aula não tem, como um palco, bastidores nem saídas predefinidas. Escolhemos utilizar o fantocheiro preto da sala como saída do lado direito do “palco”. Esta escolha é unicamente derivada da existência na sala desta estrutura e da necessidade de ter um bastidor além da cortina.

Assim o palco apresentará uma cortina pendurada num fio do lado esquerdo do público, um armário com crucifixo e calendário no centro da cena, encostado a parede, e uma saída do lado direito, mascarada com o fantocheiro.

Definição das cenas

Nesta sessão, depois de, ao longo da semana anterior, termos lido e analisado as duas versões da novela que escolhemos, uma modernização em italiano feita por Aldo Busi e uma tradução para português de Fernando Melro, debatemos para chegar a um consenso acerca de quais são os pontos fulcrais da trama. Com base nisso evidenciámos também as partes secundárias, mas indispensáveis para a compreensão da história e finalmente as partes facilmente elimináveis, pois um dos nossos maiores problemas continua a ser o limite máximo de 10 minutos para a realização da peça na última aula do semestre. Dos pontos fundamentais partimos também para o trabalho central desta sessão, a definição das cenas segundo um esquema parecido ao que já utilizámos na disciplina Oficina Multimédia o ano passado, com o professor Sidónio Garcia e Jorge Bárrios. Neste esquema, reportado mais à frente, constam o número progressivo das cenas, um breve resumo da acção desenvolvida, centrada na personagem principal, o elenco das personagens presentes em cena e as suas entradas e saídas, os figurinos utilizados, as mudanças de cenografias entre cada cena (que, na verdade não existem nesta peça, sendo muito breve) e enfim a música utilizada.


Cabeçalho da tabela de definição das cenas
Fonte: Autoria própria

Como é óbvio, a partir da definição das entradas e das saídas, e mesmo, acho, antes dessa, a discussão chegou a tocar o problema da cenografia, do qual iremos falar mais especificadamente no post seguinte.

Uma ideia importante saída da discussão foi a escolha de inserir um intermezzo onde um de nós, no papel de técnico de cena, irá tirar as folhas dum calendário presente na cenografia para representar a passagem do tempo na história, enquanto as outras personagens continuam, num plano secundário, as suas tarefas quotidianas.

Só depois deste trabalho e da compilação do esquema conseguimos verificar o número exacto de personagens na nossa peça e em consequência podemos dividir os vários papéis entre os 6 actores. Como já combinado anteriormente cada um de nós irá desempenhar mais do que um papel, com excepção da pessoa que interpreta Masetto, a personagem principal. A escolha dos papéis teve de ter em conta também o tempo necessário para mudar de figurinos entre um papel e o outro e uma consequência lógica, para não criar confusão no público.


Tabela de atribuição dos papéis
Fonte: Autoria própria

Finalmente começámos a adaptação do texto em prosa para a construção dum guião de cena e para fazer isso estudámos as duas versões do texto e a tabela da definição das cenas. Por motivos de falta de tempo e pela nossa inexperiência na escrita de textos teatrais decidimos redigir uma primeira versão que, na altura da publicação deste post ainda está em execução, e depois proceder a uma revisão e correcção da mesma já durante os ensaios. Assim, experimentado na prática, poderemos verificar se as falas escolhidas são suficientemente fortes e se desempenham a sua função e poderemos ter mais ideias graças à improvisação de cada um nos ensaios.

Se no post anterior não revelámos a história que escolhemos, referindo apenas o título e o facto de ser a primeira novela do terceiro dia do Decameron de Boccaccio, para manter o efeito surpresa, decidi também aqui não apresentar o esquema da definição das cenas concluído, onde está presente um resumo da trama, apresentando porém o cabeçalho da tabela para dar a perceber o nosso método de trabalho. Além disso, decidi apresentar em completo a tabela dos papéis de cada membro do grupo, assim como as grandes companhias revelam antes das estreias o nome dos actores.