21 de novembro de 2009

Afonso Henriques. Aprender com os melhores



Afonso Henriques. Cartaz
Fonte: obando.pt

Na óptica de continuar a aprender com os melhores, numa linha de continuidade com a visão do documentário “Ensaio sobre o teatro” da companhia O Bando e na certeza que para ser promotor de actividades teatrais é preciso, em primeiro lugar, ser espectadores de teatro fomos assistir, no passado dia 14 de Novembro, a peça infantil Afonso Henriques da companhia O Bando no Teatro Nacional D. Maria II.

Esta peça estreou em 1982, mas teve tão sucesso que periodicamente é apresentada ao público de todo o país quer porque retrata uma personagem importante da história nacional, quer porque, sendo uma peça infantil, há sempre público novo para aprecia-la. A peça, apresentada por 5 actores (3 homens e 2 mulheres), conta toda a vida de Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal que, entre as outras coisas, prendeu a própria mãe, conquistou vários castelos portugueses contra os mouros e os castelhanos chegando assim a independência de Portugal, lutou contra o papa em questões de fé e morreu velho e, finalmente, rei.

O trabalho dos actores no palco foi sempre interactivo, até ao ponto de convidar um menino a subir ao palco, e dinâmico, tornando assim a peça divertida e interessante sobretudo para um público jovem, que participou com comentos, gritos e palmas. O facto de, no início e no fim, os actores entrarem e saírem da sala em desfile, com musica e ritmo, passando no meio do público contribuiu para despertar a curiosidade e a participação. Em relação ao trabalho dos actores é de sublinhar também o facto que cada um desempenhou mais de um papel na cena, trocando de personagem só com um ou dois adereços, as vezes mudando-os mesmo em cena, como é o caso da troca de perucas quando Afonso Henriques passa de adulto a velho.

Uma outra parte importante da peça foi, sem dúvida, a música que, acompanhando todo o espectáculo, recriou o ambiente medieval, com os tambores, a gaita-de-foles e as flautas, e acelerou o ritmo da história. A cenografia, fantástica, era composta por poucas coisas que, consoante a necessidade, se transformavam agora em castelos, depois em cavalos, em escadas, tronos e berços. Esta técnica teatral de utilizar a cenografia por múltiplos usos e de trocar de fato em cena, lembra-me alguns espectáculos da companhia do Chapitô, como Drakula.

Outra característica a apontar, também para reportar o trabalho feito nas aulas à prática, foi a utilização de várias técnicas teatrais. Para representar cenas de batalha e sobretudo para inserir mais personagens, os actores utilizaram fantoches ou ainda uma espécie de teatro das sombras, actuando por baixo dum pano para recriar a noite, e também uma pequena cena de teatro dos objectos, quando Afonso Henriques, ainda menino, enterra o pai e recebe assim o poder. Também a utilização das mascaras de madeira, grandes e bonitas, contribuiu para a riqueza desta peça e para despertar a curiosidade do público, apesar de, por vezes, prejudicar a compreensão das palavras do actor que com a máscara.

O desenrolar da história não foi propriamente simples, tendo também algumas falas em espanhol, ou portunhol, e em italiano. Todavia acho correcto aumentar cada vez mais os estímulos e os desafios para um público infantil, considerando também que a mímica dos actores, a música e a cenografia ajudou muito à compreensão global da história.

Concluído, esta peça foi uma experiencia muito positiva quer pelo desempenho formidável da companhia, quer pela criatividade da encenação e das cenografias quer, finalmente, por ser no teatro Nacional D. Maria II, uns dos templos do teatro na cidade de Lisboa.


Flyer. Frente
Fonte: Digitalização


Flyer. Verso
Fonte: Digitalização


Imagem do espectáculo


Imagem do espectáculo

Ficha técnica

Afonso Henriques
A partir de um poema épico de tradição oral
Dramaturgia, encenação e espaço cénico: João Brites
Arranjo musical a partir da recolha de música tradicional portuguesa e oralidade: Teresa Lima
Figurinos: Clara Bento
Adereços: Isabel Carretas, Clara Bento e Fátima Santos
Desenho de luz: João Cachulo
Interpretação: Ana Brandão, Guilherme Noronha, Miguel Jesus, Nicolas Brites e Sara de Castro

16 de novembro de 2009

Teatro das sombras. Vamos experimentar

Depois da teoria foi a vez da prática, para aprender experimentando as técnicas, as dificuldades e as mais-valias do teatro das sombras. Depois de nos termos dividido em grupos de 5 ou 6 elementos foram dadas a cada grupo duas partes consecutivas de uma história já amplamente trabalhada nas aulas, a do Capuchinho Vermelho, na versão onde o caçador liberta a menina e a sua avó e enche a barriga do lobo com pedras. A cada grupo foram atribuídos dois cartões como estes e a tarefa de, em 40 minutos, construir as silhuetas necessárias para representar as próprias cenas com o teatro das sombras de maneira a construir em conjunto o conto inteiro. Os materiais dados a cada grupo foram cartolinas, papel filme colorido, tesouras, cola, fita-cola e palhinhas para manipular as figuras uma vez ultimadas. O trabalho dos grupos foi sobretudo à volta da decisão do que era fundamental existir em cena e sobre os papéis de cada um, uma das maiores preocupações, de facto, era o pouco tempo e a necessidade de realizar as figuras. Nesta fase de preparação tivemos também de encontrar tempo para ensaiar atrás do ecrã, para combinar as posições de cada um, as entradas e as saídas das personagens e os movimentos básicos. Infelizmente, pelo menos no meu grupo, neste pouco tempo, as falas foram deixadas à improvisação de cada um, confiando assim na capacidade de interagir uns com os outros e na flexibilidade.


Cartões atribuidos a cada grupo
Fonte: Autoria própria


Materiais utilizados
Fonte: Autoria própria

O trabalho final consistiu na representação do conto todo seguido, mas, para não criar problemas de ruído de fundo e de desconcentração, como aconteceu outras vezes, foi decidido parar a acção e desligar o retroprojector cada vez que um grupo terminava a sua parte, para dar tempo e tranquilidade ao grupo seguinte de se preparar. O resultado final é apresentado no vídeo seguinte. O vídeo foi gravado e montado por mim por isso a qualidade do som não é óptima e sobretudo não apresenta a primeira parte da representação, sendo eu, nesta parte, um dos manipuladores.


Trabalho final
Fonte: Autoria própria

Esta primeira abordagem ao teatro das sombras revelou-se muito interessante sobretudo em relação à facilidade, à velocidade e à criatividade com a qual conseguimos criar as silhuetas em tão pouco tempo. Todavia, encontrei bastantes dificuldades na manipulação das figuras e reparei também nisso no trabalho dos meus colegas. Se calhar tivemos demasiada atenção relativamente à realização artística das silhuetas e não investimos o suficiente no praticar e no ensaiar atrás do ecrã. Este é um erro que, em futuros ambientes profissionais, não podemos voltar a repetir. O teatro das sombras, na óptica da oferta de um panorama cada vez mais abrangente de novos estímulos culturais aos nossos públicos, já desenvolvida neste blog, é uma óptima ferramenta de trabalho, mas não podemos esquecer a qualidade da oferta apresentada. Por isso acho esta técnica ainda bastante difícil de actuar ou pelo menos acho fundamentais os ensaios e a aquisição de experiencia na manipulação, tanto como na construção das figuras, antes de utilizar o teatro das sombras em contextos profissionais.

Teatro das sombras. Teoria.

Para abordar várias técnicas e escolas do teatro, nesta sessão começámos a trabalhar o teatro das sombras. Inicialmente o professor deu-nos uma breve explicação teórica sobre os recursos, as técnicas e as atenções que é preciso ter quando se trabalha com as sombras. Há duas maneiras de representar as sombras para um público: a primeira consiste em utilizar uma fonte de luz, um projector ou melhor ainda um retroprojector atrás dum painel com um ecrã branco, de papel ou de tecido. Os manipuladores encontram-se, escondidos, entre a fonte de luz e o ecrã e o público está do outro lado do ecrã. Nesta modalidade os manipuladores vêem as mesmas imagens do público invertidas, encontrando-se do outro lado do ecrã.


Primeiro esquema
Fonte: Autoria própria

Na segunda modalidade, como numa sala de aulas, o manipulador trabalha no retroprojector atrás do público, uma vez que o ecrã é a parede ou um painel branco em frente do público. Esta técnica pode ser usada para aumentar a interactividade, uma vez que os manipuladores estão visíveis atrás do público e podem pedir ajuda às pessoas, por exemplo, para as vozes ou os sons que são necessários no desenvolvimento da peça. Claramente, sobretudo com crianças pequenas, a primeira técnica é mais rica em mistério e magia.


Segundo esquema
Fonte: Autoria própria

Também a distância entre a figura projectada e o ponto de luz interessa porque quanto mais perto uma figura esteja da luz, maior essa será projectada no ecrã, mas com uma menor nitidez. Por outro lado uma figura muito próxima do ecrã manterá as suas dimensões originais e a sombra será muito escura e definida. Pode-se utilizar esta técnica para dar mais força a imagens e as palavras na cena, por exemplo, se um lobo mau aparece de longe pode-se aproximar a sua silhueta do ponto de luz até ao ecrã para dar a impressão da chegada ou outros truques deste género.

Um outro ponto muito importante para aprender esta técnica é a utilização dos materiais para construir as silhuetas que irão projectar as sombras no ecrã. Uma silhueta de papel normal ou de cartolina projecta uma sombra preta opaca e não permite a sobreposição das figuras. Pelo contrário, a construção de papel filme colorido apresenta uma sombra da cor do papel e permite misturar as figuras e as próprias cores, segundo o esquema seguinte.


Esquema das cores

Este tipo de papel, por ser mais leve, pode ser utilizado também para fazer a roupa das personagens, ou as partes internas das figuras, para deixar passar mais luz e dar cor a toda a cena. As figuras, além que coloridas, podem ser articuladas, utilizando tachas para juntar as duas partes. Assim, os membros separados podem ser deixados livres para que baloicem ou ser manipulados separadamente, como no caso dum maxilar inferior duma personagem.

Finalmente, a última coisa à qual é preciso prestar atenção, talvez seja aliás a mais importante, é a manipulação. De facto, é muito difícil manipular bem uma figura para que o público veja completamente os movimentos e não se distraia porque a personagem começar a voar na cena ou porque aparece a cabeça do manipulador. Para preparar esta parte, além de ter atenção à regra da sobreposição, a única coisa a fazer é praticar, experimentar e ensaiar de maneira a trabalhar bem em conjunto, tendo bem em conta o espaço de luz delimitado no ecrã, as proporções e os movimentos das outras personagens.

Acordar outra vez

Nesta sessão, como fizemos na sessão do dia 6 de Outubro , começámos não com um aquecimento, mas sim com um relaxamento individual. Deitados no chão sobre os colchões da sala de barriga para cima, individualmente, tentámos, num primeiro momento, alcançar a concentração necessária para iniciar a sessão. De seguida, sempre em silêncio, começámos, seguindo as instruções do professor, a rodar devagar o pé direito, de fora para dentro e de dentro para fora, ou seja, no sentido dos ponteiros dos relógios e no sentido oposto, tentando mexer só o tornozelo e o pé, ligeiramente levantado do chão, sem mexer a perna nem outras partes do corpo. A seguir ao pé direito foi a vez do pé esquerdo repetir o mesmo exercício. Depois dos pés, para concluir os membros inferiores encolhemos simultaneamente as pernas, juntando-as ao corpo, sempre devagar e sem movimentos bruscos, para depois esticá-las outra vez no chão, como se nos espreguiçássemos.

Para os braços e os ombros começamos com o rodar das mãos, com todos os dedos bem esticados, também nos dois sentidos, primeiro a mão direita e depois a esquerda tentando, similarmente ao que tínhamos feitos com os pés, não mexer outras partes do corpo. De seguida, o professor mandou-nos espreguiçar os dois braços simultaneamente esticando-os atrás da cabeça.
Para concluir este exercício fizemos também alguns movimentos com a cabeça, inicialmente rodando para a direita, depois para esquerda e sucessivamente, num só movimento, rodando-a do centro para a direita, da direita para a esquerda e retorno a posição central.

Este tipo de exercícios, além de trabalhar o silêncio, a concentração e a alienação em relação aos outros colegas (e somos muitos) na sala ajuda a acordar outra vez, deixando o tempo para acordar as pernas, os braços e a cabeça, trabalhando nas articulações. Na minha opinião este pode ser um exercício quer para o início da sessão, sobretudo se a sessão acontece no início da manha, como a nossa, quer no final, para relaxar os músculos e os membros depois dos exercícios.