16 de dezembro de 2009

Ensaios

Depois do trabalho relativo à cenografia e aos aspectos mais técnicos, aos quais fazem referências nos posts anteriores, começámos a escritura do guião. Tendo-me disponibilizado para fazer essa tarefa pelo grupo, parti da tabela de definição das cenas que realizámos em conjunto e, com o auxílio da versão portuguesa da novela, comecei a escrever a primeira versão do guião. Inicialmente, tive alguma dificuldade na definição e na escolha das falas, sendo a peça muito curta e tendo essencialmente um tom irónico e provocatório é fundamental que as falas das personagens reflictam estes aspectos. Assim, depois duma primeira redacção do guião, decidimos passar directamente aos ensaios.

No primeiro ensaio, realizado no dia 10 de Dezembro, não considerámos logo o guião, mas começámos de novo, sempre partindo da tabela, com a encenação. Depois de terem lido e percebido o resumo da acção que ia decorrer em cada cena os actores presentes improvisaram as falas, num exercício dramático de improvisação, parecido com os desenvolvidos nas aulas. Os outros membros do grupo, em qualidade de espectadores, observavam a cena e, num segundo momento, avaliaram a expressividade das palavras e dos gestos dos colegas. Depois de ter procedido ao ensaio completo da peça tivemos assim uma versão escrita das falas e uma versão improvisada e discutida por todos os participantes.

Graças a estes dois suportes procedemos a uma segunda edição do guião, melhorada com as ideias saídas do primeiro ensaio. E foi com esta segunda versão, mais aperfeiçoada que ensaiamos na sala de aulas. Este ensaio, o primeiro no efectivo espaço onde iremos apresentar a nossa peça, foi-nos muito útil, para além de que para as falas e os movimentos na cena, para as entradas e as saídas de cena dos vários actores que, como já dizemos, irão interpretar várias personagens. Neste ensaio, pela primeira vez, montámos também uma parte da cenografia e vimos quanto espaço real temos, quer para representar quer para nos esconder e trocar de roupa quando não estamos em cena. Experimentámos também os fatos, quase todos, para ver se temos de procurar mais adereços e mais roupas.

Estão previstas, antes da grande estreia, mais duas sessões de ensaio. Uma onde iremo-nos cronometrar-nos, pois o factor tempo continua a ser um problema a ter em conta, e finalmente o ensaio geral, com música, cenografia e figurinos completos, que já está marcado para o dia 4 de Janeiro.

Serão de contos na ESELx

Como já anunciado este post pretende apresentar o trabalho feito por mim para a realização do serão de contos na ESELx no dia 9 de Dezembro. A ideia partiu da professora Lúcia Soares, da disciplina de Literatura de Expressão Portuguesa e do professor da cadeira para a qual este blog é o instrumento de avaliação, Prática Teatral, Miguel Falcão, que, sabendo que eu era um contador do projecto da Biblioteca Municipal de Oeiras (BMO) “Histórias de Ida e Volta” e que na turma do primeiro ano do pós-laboral estuda a colega Rita Dornellas, técnica da BMO e responsável pelo projecto, nos desafiaram para organizar um serão de contos na nossa Escola.

Para ser honesto quem fez a grande parte do trabalho foi, de facto, a Rita que escolheu os contadores entre os da bolsa do projecto da BMO, organizou a sua turma para a aquisição em conjunto dum bolo-rei para tornar a noite mais acolhedora e preparou duas leituras, uma em conjunto e uma feita por ela própria, como presente para os contadores convidados.

Eu limitei-me a trazer um conto, descoberto na tradição oral moçambicana para a avaliação da disciplina da professora Lúcia Soares, e a tratar das tarefas mais técnicas como as luzes e os folhetos com o alinhamento.

Neste blog acho interessante reportar o meu trabalho com as luzes, uma vez que na peça que iremos apresentar na última aula não iremos poder utilizar este tipo de suporte técnico. O local escolhido para o serão foi o Salão Nobre da nossa Escola que tem várias luzes que o iluminam completamente, mas um dos aspectos principais para a boa realização dum serão de contos é ter uma luz quente, mas não demasiado intensa, para recrear um ambiente acolhedor e focar a atenção no contador e nas suas palavras. Por isso decidimos utilizar os dois spots menos potentes que a Escola tem e posicioná-los no primeiro andar do salão nobre. Juntamente com a Rita decidimos colocar a cadeira do contador por baixo do palco e cerca de 60 cadeiras à sua frente, numa meia-lua, sempre para tentar recrear um ambiente acolhedor e quase intimista. As luzes, seguradas ao corrimão, uma em cada lado da sala deveriam iluminar o lugar do contador e também o palco, onde iriam ser posicionadas as primeiras obras dos alunos da disciplina “Oficina de Expressão Plástica”. Todavia foi preciso evitar que a fonte de luz incomodasse em primeiro lugar o contador, sendo o contacto visual com o público uma componente fundamental do nosso trabalho, e claramente também as pessoas do público, mais especificadamente as sentadas nas extremidades da meia-lua. Para posicionar as luzes e para verificar todos estes pormenores efectuamos uma prova de luzes dois dias antes o serão de maneira a prevenir problemas de última hora.

O serão começou com a leitura em conjunto do texto “O Limpa-Palavras” de Álvaro Magalhães e com a leitura de “O Senhor das Palavras” de Isabel Rosas, feita pela Rita, em jeito de presente aos contadores que aceitaram participar no serão na nossa Escola. A seguir sucederam-se vários contadores da BMO, alguns dos quais pertencem ao grupo dos Contabandistas, e duma professora da ESE, que concedeu também um bis à audiência. O público, composto por alunos da Escola, maioritariamente das turmas do pós-laboral, por professores e por convidados amigos dos contadores foi muito participativo e atento, o que é fundamental para um contador, sendo o acto de contar não só uma performance, mas também um trabalho de partilha com as pessoas. Alguns dos contos escolhidos eram de autores, como José Eduardo Agualusa ou o italiano Stefano Benni, e da tradição oral africana, angolana e moçambicana. Alguns contadores decidiram, antes da própria actuação, mudar o conto reportado no folheto com o alinhamento entregue à entrada a todos os participantes e apresentado no final deste post. Isso porque, às vezes, um serão transforma-se e é preciso e importante adaptar os contos numa linha de continuidade e numa associação de ideias com os anteriores. Depois dos contos foi servido o chá, oferecido pelo Conselho Directivo, e os bolos, comprados em conjunto dos alunos. Esta foi também a ocasião para trocar opiniões, agradecer e partilhar experiências, profissionais e não só, entre os participantes e os contadores. O espírito de todo o serão foi, na minha opinião, muito bom, descontraído e partilhado e este é, sem dúvida, um dos objectivos da realização deste evento na nossa Escola.

Nos dias seguintes alguns dos contadores agradeceram-nos, a mim e a Rita, pelo convite e demonstraram a sua apreciação sobre o Salão Nobre para este tipo de eventos. Esta poderia ser uma sugestão para a Escola continuar a realização de serões de contos, também porque a promoção da leitura e da tradição oral e a técnica do contar são aspectos fundamentais para as profissões que aqui são ensinadas.

Alinhamento dos contadores:
Helena Gravato: Kimanueze e a filha do Sol - Conto Tradicional de Angola
António Gouveia: Sir Gawain e a Dama Repugnante - Conto Tradicional
Antonella Girardi: Vai Amália, tu consegues! - Stefano Benni
Maria Encarnação Silva: O pássaro pançudo – Conto tradicional português
Cláudia Fonseca: O Uivo amarelo dos Girassóis - José Eduardo Agualusa
Matia Losego: Os filhos do Cobra Bona - Conto tradicional moçambicano


Ilustração do Projecto "Histórias de Ida e Volta" da BMO