25 de outubro de 2009

Para que isso me serviu?

A minha reflexão final para esta sessão divide-se, como a própria sessão, em duas partes. Em primeiro lugar queria abordar, tal como fizemos no debate final, a importância pessoal e profissional da improvisação. Por experiência pessoal, sei que a capacidade de improvisar é como um músculo que precisa de ser treinado com exercícios como os que fizemos nessa aula, de improvisação pura a partir de objectos e de improvisação ligeiramente orientada. Digo que esta capacidade precisa de treino porque não é possível estudar a improvisação e a única maneira de aprende-la é colocarmo-nos perante situações problemáticas, onde, por exemplo, um colega te desafia para continuar, em poucos segundos, a trama de uma história. Assim, repetindo estes exercícios, que entre as outras coisas são muito engraçados, iremos adquirir a capacidade de ser nós a dar o primeiro passo e a desafiar os outros ou mesmo a resolver rapidamente uma situação problemática. Adquirir esta capacidade, para um animador sociocultural, é fundamental, pois haverá sempre problemas de logística, de dinâmica do grupo ou de tensão com o nosso público-alvo e muitas vezes reagir como num exercício de improvisação teatral é a solução melhor. Também na própria área do teatro a improvisação permite-nos construir actividades e jogos partindo basicamente de poucas coisas, alcançando com estas actividades objectivos fundamentais como o espírito de grupo e a perda de inibição dos participantes. A nível pessoal, o treino desta capacidade é para mim fundamental porque se, como quero, num futuro me irei afirmar como contador de histórias terei de habituar-me ao facto de, como já me acontece, um miúdo na primeira fila interromper o meu conto e ter de improvisar a partir das suas palavras o resto da minha história. Creio que estes exercícios e esta maneira de resolver os problemas são muito interessante também a nível mental, porque a improvisação obriga-nos a puxar pela cabeça para encontrar rapidamente as palavras para responder.

A segunda reflexão estrutura-se acerca da primeira abordagem que tivemos com o teatro de objectos. Acho este género teatral, (pouco desenvolvido em Portugal e em Itália, mas que pode contar com grandes companhias em outros países como França), muito fascinante porque recupera os jogos infantis e as suas regras, onde um objecto se transforma numa personagem e onde é a mão do manipulador que manda os seus movimentos. Todavia, como vimos nesta sessão, é uma modalidade muito difícil porque implica várias regras de manipulação, se calhar mais difícil do que as próprias marionetas. Num futuro profissional poderei utilizar o teatro de objectos para improvisar, mais uma vez, pequenos espectáculos teatrais em vários contextos, sobretudo com um público infanto-juvenil, utilizando-o para contar partes de histórias ou para dinamizar leituras. A parte mais interessante do trabalho que fizemos na aula foi, com certeza, a descoberta deste novo género teatral, que me permitiu descobrir uma outra maneira, a mim desconhecida, de fazer teatro.

Fazer pressão para relaxar

O exercício de relaxamento do final da aula foi feito a pares, aproveitando os pares que se formaram na última dança do exercício de aquecimento. Um participante era considerado o elemento A e o outro o elemento B. Com o acompanhamento de uma música instrumental relaxante a tarefa do elemento A era contribuir para a descontracção do colega deitado de barriga para cima no chão pressionando-lhe ligeiramente com as pontas dos dedos a cabeça, as palmas das mãos e as palmas dos pés. A um sinal predefinido o elemento B virava-se barriga para baixo e o elemento A continuava o seu trabalho, desta vez pressionando também as costas do colega. Tudo isso devia ser feito em rigoroso silêncio e tentando isolar-se do resto do grupo, imaginando de ser os únicos na sala e prestando muita atenção às respostas corporais do elemento B, percebendo quando a estimulação dum ponto era desagradável e quando esta contribuía para o relaxamento. A actividade continuou com a troca de funções entre o elemento A e o elemento B.

Este tipo de actividade, que obriga à concentração e que ajuda a ter consciência do nosso corpo, foi muito importante apesar de não ter tido a possibilidade de durar o tempo necessário. De facto, com um grupo muito grande como o nosso, é mais difícil alcançar a concentração em tempos breves e cada som ou elemento externo pode desviar a atenção.

Teatro de objectos

A actividade proposta insere-se no objectivo, presente no programa da disciplina, de abordar várias técnicas e vários géneros do teatro. A cada grupo foi dado um conjunto de bonecos e a tarefa de inventar uma história para ser representada, manipulando os bonecos, em cima de uma mesa de apoio. Assim, em cada grupo, discutiu-se bastante, não só sobre como constituir uma história com princípio, meio e fim, (ou seja, com um início, um problema, a resolução do problema e o final), mas também sobre como resolver os problemas relativos a manipulação dos bonecos evitando que a mão do manipulador escondesse o boneco ao público, mas ao mesmo tempo dando uma certa liberdade de movimento aos personagens. Cada grupo, de facto, tinha 4 ou 5 participantes, que se traduz em 5 ou mais mãos a trabalhar em simultâneo na cena com bonecos de pequenas dimensões. As histórias apresentadas ao resto da turma, feitas com os bonecos e com alguns lenços a servir de cenário, foram bastante boas no que concerne a trama, mas tiveram alguns problemas com a manipulação, devido à nossa inexperiência neste género teatral e ao tamanho dos bonecos. Muitas vezes, as histórias tinham a ver com as características dos bonecos, por isso o grupo que tinha vários animais para manipular inventou uma trama que se desenvolvia na savana, mas outras vezes, graças a uma grande fantasia dos componentes do grupo, os objectos assumiam características surreais. Assim quatro cenouras transformaram-se em cena numa nave espacial e na sua tripulação. Isso acontece porque, no teatro, há um acordo, um contrato hipoteticamente assinado entre o público e os actores, ou manipuladores, pelo qual quando se define que uma cenoura é uma nave espacial todos acreditam nisso para manter a magia do teatro onde, como disse um actor italiano, Gigi Proietti, "tudo é fictício, mas nada é falso".

Este exercício permitiu-nos descobrir o teatro de objectos, desconhecido pela maioria dos participantes, e perceber as suas dificuldades e, por isso, o mérito dos manipuladores. Este tipo de actividade insere-se na óptica de proporcionar ao nosso público-alvo um panorama cada vez mais abrangente de actividade, permitindo-lhe descobrir novas formas de fazer teatro e de abrir os seus horizontes culturais.


As cenouras são naves espaciais
Fonte: Autoria própria

Cinco objectos fazem uma história

Sentados em roda fomos divididos em grupos com o simples sistema dos números: o professor atribuiu a cada um um número de 1 a 5, formando assim cinco grupos homogéneos. A seguir, foram postos no meio da roda cinco objectos: duas malas, um tacho, uma concha da sopa e uma vassoura de vime. A tarefa de cada grupo consistia em ir para o meio da roda e muito rapidamente, utilizando os objectos para os seus fins verdadeiros ou inventados, improvisar a representação de alguma cena. Aconteceu assim que quem entre os participantes dos grupos era mais rápido a encontrar uma utilização para um objecto e um princípio de relação com as outras pessoas começava uma história, quase obrigando os outros a ir atrás do fio lançado. Assim criaram-se pequenas dramatizações como um engarrafamento no trânsito ou uma creche com bebes malcheirosos. A tarefa mais difícil era, para alguns, ir atrás duma história pensada por outros, deixando de lado a própria versão da utilização do objecto e a própria ideia de situação, e para outros encontrar uma prossecução ou uma solução ao problema apresentado no início da representação.

O exercício seguinte, depois de ter sido dada a possibilidade a todos os grupos de improvisar totalmente, foi outra vez começar uma improvisação partindo dum local dado pelo professor. O exercício era parecido ao primeiro, com a obrigação de utilizar os objectos, de interagir entre os participantes e de seguir o fio da história lançada, mas desta vez todo o grupo tinha o ponto de partida igual e definido. Todavia, também assim, a pessoa mais rápida acabava por decidir a maneira como a história se ia desenrolar. As sugestões de locais dadas foram: um templo, uma paragem de autocarro, um museu, um restaurante e a encenação de uma peça teatral portuguesa.

Estes dois exercícios foram um começo da improvisação, um primeiro treino livre desta área do teatro, desenvolvida ao máximo, por exemplo, no teatro desporto. Como vimos, às vezes, é bastante difícil interagir rapidamente com outros participantes quando cada um tem na cabeça uma versão da história. Isso, para além de introduzir-nos cada vez mais no mundo do teatro, contribui para construir um grupo da turma, baseando as nossas relações na experiência comum de situações novas como esta.


Pura improvisação
Fonte. Autoria própria

Solo voy com mi pena

De manhã cedo, no princípio da aula, é bom aquecer com música, com uma música movimentada e conhecida que nos permita andar livremente no espaço, inicialmente caminhando, tentando descontrair todas as partes do corpo, a seguir, quase involuntariamente, dançando e cantando entre os lábios a letra da canção. O exercício de aquecimento desta sessão, parecido com o da precedente, foi, num primeiro tempo, andar pela sala, de costas direita e cabeça erguida, tentando apanhar o ritmo da musica de Manu Chao ( http://www.manuchao.net/ )A um sinal do professor (bater de palmas) a tarefa era agarrar na pessoa mais próxima e dançar com ela ao som da música. Foi-nos recomendado que não dançássemos como numa discoteca, cada um singularmente, mas sim dançar agarrados uns aos outros, como requeria a música. Ao segundo sinal era obrigatório deixar o par, muito rapidamente, e continuar a andar pelo espaço sozinho. A vez sucessiva não se podia dançar com a mesma pessoa, mas tínhamos, sim, de escolher uma outra, dançando também com ela.

Dado que o grupo da turma é bastante homogéneo no número de rapazes e raparigas foi-nos possível fazer duas rodas concêntricas, uma de rapazes e a outra de raparigas. Sempre ao som da música, dançámos em roda à direita e à esquerda de maneira que as duas rodas dançassem em sentidos inversos. Ao sinal, a roda exterior passava a ser a interna e vice-versa. A seguir acabámos o aquecimento em grande roda onde os participantes eram alternados por género, quem restava excluído por não respeitar a ordem rapaz-rapariga-rapaz, ia para o centro da roda dançar livremente, tendo mais tarde a possibilidade de trocar o seu lugar com uma outra pessoa.

A utilização de uma música movimentada para o aquecimento permite-nos dançar energicamente e, assim sendo, aquecer todas as partes do corpo e melhorar cada vez mais o nosso sentido do ritmo.